(Des)colonização dos afetos
- Carolina de Souza Sampaio
- 22 de abr.
- 1 min de leitura
O quanto do que sentimos acreditamos ser natural e irrevogável, mas na verdade é uma construção de sentidos que chega até nós?
Será natural sentir ciúmes? E a vergonha, como aprendemos a nos envergonhar da sexualidade, por exemplo?
Inicio esse texto com questões motivadas pela leitura do livro "Descolonizando afetos" da psicóloga Geni Núñez. É comum aceitarmos as afetações da vida cotidiana sem muitos questionamentos, apenas até o ponto em que uma situação se amplifica, gerando um sofrimento notável. Se tratando de relações afetivas, aprendemos as noções de posse muito cedo, e dificilmente conectando o quanto dos conteúdos no relacionar-se estão associadas a noção de propriedade e levam ao ciúme, ao controle do outro, e no ápice do seu adoecimento, perseguições, e crimes como o feminicídio.
Geni conta que na língua indígena Guarani, não existem palavras que significam posse: "Em vez de dizer que somos donos de algo, dizemos que estamos em sua companhia" (p. 20). Falar sobre isso é dar-se conta de como a noção de propriedade privada aparece nos relacionamentos a partir da colonização (no caso do Brasil), e com isso surge na cultura uma coleção de sentidos associados que se fazem presentes na forma que sentimos, pensamos, nomeamos e nos relacionamos.
Pensar sobre esses afetos (e crenças) é um convite a desnaturalizar o que se sente e abrir-se a questionar o que os produz. Questioná-los é um exercício de liberdade: permite fazer novas escolhas e revisar modos de vida, ou no mínimo, estar mais consciente do que nos compõe.
