A experimentação como método
- Carolina de Souza Sampaio
- 15 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de jun.
A proposta em esquizoanálise parte da recusa a enxergar o mundo apenas pelo enquadre neurótico e limitado ao qual costumamos estar submetidos, e por isso, o termo "esquizo" faz a alusão ao modelo da esquizofrenia, que se compõe de outro modo de funcionamento, por partes, pedaços.
Essa perspectiva de pensamento surge trazendo críticas às limitações da psicanálise, em como a teoria foi centrada na interpretação, na ênfase no passado e na cena familiar. Assim, os enunciados produzidos em análise, são apenas os que a gramática psicanálitica permite.
Por isso, a esquizoanálise tem como método a experimentação, e não a interpretação. Ao invés de reproduzir o método interpretativo, de fechar sentidos a um código definido, na experimentação a aposta é em acompanhar movimentos, deslocamentos, perceber onde levam as experiências. É a substituição do método arqueológico, pelo cartográfico. Um mapa aberto é um sistema sem centro, sem hierarquias e sem sentidos prévios.
Por isso a proposta na esquizoanálise se diferencia como método e como prática. A aposta está em compreender os fluxos do desejo, suas direções e sentidos. Ativamente produzir sentidos, não reduzi-los, menos ainda reduzi-los a uma codificação prévia, centrada nas instituições, na família e na ordem social.
Nos interessa perceber as conexões entre afetos, o que se transforma, o que está enrijecido, o que se diferencia. A produção de sentidos nos fenômenos ocorre ao longo do processo. "É um mapeamento que produz, agencia a realidade, e não meramente a representa" (p. 39).
"A questão para o clínico e investigador em esquizoanálise é conhecer como o seu dispositivo mobiliza regimes desejantes e de forças, produção de enunciações e subjetivação. Quais são discursos, afetos e intensidades que são mobilizados no trabalho clínico interventivo?" (p.38).
Apesar de considerar a história do sujeito, o foco está nas conexões, na "geografia" dos afetos e pensamentos, ao invés de em uma história individual e individualizante. Podemos a partir de um caso, nos fazer questões como: Como as subjetividades que aparecem nesse discurso tem sido produzidas? Quais capturas essa vida se submete? Como contribuir com a emancipação? Quais espaços endurecem o funcionamento dessa pessoa? Quais conexões e encontros aumentam a potência de vida? Quais entristecem?
No movimento em compreender, vamos propondo novas questões, e expandindo (analista e analisante) os horizontes de sentidos possíveis. Se desfazer de capturas subjetivas e liberar o desejo para criar formas mais singulares na relação com a vida, pode ser um exercício libertador.
Referência. Hur, Domenico Uhng. Esquizoanálise e Esquizoadrama. Clínica e política. 2° Edição. Campinas: São Paulo. Editora Alínea: 2023.