Esquizoanálise é uma psicanálise?
- Carolina de Souza Sampaio
- 12 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de nov. de 2024
Muitas pessoas questionam se a esquizoanálise seria "uma forma de psicanálise". Apesar dessa teoria ter nascido do encontro entre um filósofo e um psicanalista, surge justamente contrapondo alguns conceitos psicanalíticos e ampliando as possibilidades de investigação e intervenção.
Onde a psicanálise vê a família, a esquizoanálise vê para além dela: o mundo, o campo social, as instituições.
Onde a psicanálise vê representação e repetição, a esquizoanálise vê diferença, movimento e produção do novo.
Onde a psicanálise vê a neurose como modelo, a esquizo vê o neurótico apenas como uma forma-homem produzida socialmente, não o destino do ser.
Onde o inconsciente da psicanálise teria uma origem que sempre remete à infância, esse conceito retoma a sua potência criadora, sendo visto como produzido e atualizado a cada encontro com a vida.
O conceito de território subjetivo ganha lugar privilegiado em relação ao conceito de sujeito, chamando atenção para a diversidade que nos compõe mais que para uma unidade fictícia.
A esquizoanálise é sobre multiplicidade, em lugar da unicidade. É a expansão das lentes da análise para o campo de forças que compõe um sujeito.
A concepção de falta (psicanalítica) é apenas uma forma de compreensão do desejo. Desejamos porque funcionamos em devir, nos movimentamos no mundo e não porque algo nos falta e é necessário tentar "completar". Que nenhum objeto paralise o desejo não significa que sejamos seres faltantes, apenas que somos seres em movimento.
Desejo, longe de ser pensado como ausência, é pensado como excesso: "aparece não como potência de negação, nem como elemento de uma oposição, mas, sobretudo, como uma força de procura, uma força questionante e problematizante que se desenvolve num outro campo que não o da necessidade e da satisfação" (Deleuze, 1968, p. 158)
A teoria deixa de lado o interesse interpretativo contido na questão "o que isso significa", passando para a questão "e o que isso produz?". O que nos interessa é como as máquinas sociais nos afetam, o que produzem em nós, indo além das identificações e representações, podemos ampliar as possibilidades de movimento da vida a partir das compressões dessas conexões.
O que a clínica faz nessa perspectiva é compreender esses circuitos de desejo, essas "maquinarias" que nos conectam ao mundo, questionar o que as conexões produzem em nós para buscar outras formas de experimentação de vida mais alegres e autênticas.
Referência: Deleuze, G. (1968). Diferença e Repetição. São Paulo: Brasiliense, 2006.
Imagem: Boy with Machine, 1954, Richard Lindner.