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O mito do psicólogo passivo (e neutro)

  • Foto do escritor: Carolina de Souza Sampaio
    Carolina de Souza Sampaio
  • 19 de mai.
  • 2 min de leitura

Na cultura, de modo geral, ouvimos circular um estereótipo do psicólogo como aquele que "apenas escuta" e deixa o outro numa posição de desconforto, encontrando somente silêncio. Provavelmente esse olhar surge de uma tradição de uma certa psicanálise em que o paciente deveria se escutar e se dar conta do próprio discurso.


Embora a dinâmica terapêutica não exista sem escuta (que é também do corpo, dos afetos, dos movimentos), uma psicoterapia é uma relação em que o outro (a alteridade no encontro com psicólogo) precisa comunicar para que algo de novo seja produzido a partir dessa escuta. Alguém pode se escutar repetidamente e não se dar conta das implicações do que diz até que alguém interfira, apontando algo novo, um sentido, uma questão.


Outro mito é que essa escuta e essa intervenção seriam "neutras". Mas o que seria isso? A fala de um psicólogo, por mais teorizada e ampla que seja, vem de um lugar no mundo. Carrega sua história, sua cor, seu gênero, sua voz, seu território, seu modo de estar no mundo. E são justamente essas singularidades que criam diferentes modos de produzir o vínculo necessário para o processo terapêutico.


Nas identificações e diferenciações uma relação acontece. O mito da neutralidade (na psicologia e na ciência em geral) parece ter servido a ilusão de uma verdade única. Mas quando falamos da nossa condição de humanidade, esse discurso não se sustenta. Qualquer fala, qualquer pesquisa, qualquer intervenção, (qualquer técnica!), diz de um lugar ético, de uma posição com implicações na vida, na cultura, nas relações.


Como afirmam Figueiredo e Loureiro (2018), os dispositivos psicológicos são dispositivos de produção de subjetividade, sendo assim, tem lugar substancialmente também ético-político. Por isso mesmo, "ao adotar uma linha de psicologia, estaremos, mesmo que involuntária e inadvertidamente, tomando partido em um campo que transcende o científico e o psicológico" (p.88).



Referência:

Figueiredo, Luis Claudio e Loureiro, Ines. Os saberes PSI em questão. Sobre o conhecimento em Psicologia e Psicanálise. Petrópolis, RJ. Vozes, 2018.



 
 

Psicóloga Carolina Sampaio | CRP 03/18064

(75) 991318801 | carolinasampaiopsi@gmail.com

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