Autenticidade
- Carolina de Souza Sampaio
- 24 de mar.
- 1 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.
A questão: "quem sou eu?" costuma surgir como tentativa de encontrar um alicerce, uma ancoragem onde se afirmar e se singularizar. É uma pergunta que abre processos interessantes de identificação e diferenciação, mas pode ser um risco se parte de uma necessidade em se limitar e repetir-se em nome de uma fidelidade a si mesmo.
Assim, a ideia de uma autenticidade pode parecer problemática nesse contexto, se a busca por ser autêntico pretende encontrar algo prévio a ser "revelado" ao mundo. Essa ideia de "eu sou" pode limitar e aprisionar, se fixada na lógica identitária.
Mas a busca por ser autêntico pode ser interessante se atribuímos a esse termo um modo de viver que recorre menos a formatações sociais, que permite se construir pelo acesso às sensibilidades e intensidades daquele ser ao se relacionar com o mundo, podendo levar a criação de uma vida própria, uma presença mais inventiva na vida. Nada tem a ver com um antes ou uma essência, mas com um modo de estar no mundo.
Ser autêntico é escutar as "partes" de nós para além da imagem do "eu" que aprisiona. É dar lugar ao que é inconsciente, ao que se produz numa vida todo o tempo. É estar nas experiências sem recorrer a tantas formatações estabelecidas (pelas instituições, pela cultura, pela família).
Cuidar dessa autenticidade, nesse contexto, é exercitar a honestidade em perceber afetos que nos percorrem e despersonalizam. Nos fazem inclusive nos "desconhecer". Acessar sensibilidades que podem ser inconvenientes e desconfortáveis, porque nos tornam outras coisas. Isso é ser fiel a si: o compromisso de "tornar-se quem se é".
