Rejeição e preterimento nas relações
- Carolina de Souza Sampaio
- 18 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de jun.
É comum que quando não ocorre reciprocidade no desejo amoroso-romântico, ou há ruptura de vínculos por intenção de um membro na relação, ocorra uma frustração que recai em uma ideia de "falta" ou autoacusação. Um questionamento comum é: "O que me falta para que aquele fulano não tenha me amado"?
Um argumento comumente utilizado para finalizar relações românticas em que se diz: "não é você, sou eu", parece justamente buscar mitigar esse caminho de pensamento, evitando o possível sofrimento de alguém que se suporia diminuído pelo término. Também aparece na cultura argumentos que justificariam uma traição do pacto monogâmico centrada na falta do que um parceiro (geralmente parceira, neste caso), deveria oferecer. Essas falas fazem parte desse caminho argumentativo culturalmente aceito, que pouco nos questionamos o quão é justo ou realista.
É nessa ilusão de que não ser desejado por alguém aponta uma falta, que se fundamenta a ideia de rejeição e o sofrimento advindo dessas circunstâncias. Questionar essa noção é abrir a compreensão de que o desejo do outro não informa sobre o valor de alguém, diz apenas de um "entre", de uma relação que não funciona para algum dos lados.
"Presumir que o único motivo pelo qual alguém não nos deseja é porque algo em nós faltou, nos impede de reconhecer que as pessoas nem sempre recusam algo negativo." (Núñez, p. 132). Reconhecer que o desejo do outro não diz sobre o próprio valor é um caminho importante de retorno ao cuidado de si e à naturalização da aceitação dos "nãos" nas relações.
Por outro lado, a experiência de preterimento em relações também pode estar associada a fatores culturais que definiriam o "valor social" das pessoas nas relações. Assim como objetos, numa lógica de mercado, vivemos submetidos a critérios etaristas, sexistas e colonialistas, ditando quais corpos seriam dignos de afeto e quais não. Em "prateleiras do amor", Zanello (2022) descorre sobre como somos afetados por esse funcionamento.
Neste caso, em que experiências de preterimento dizem respeito a preconceitos e violências sociais, esse é mais um motivo para que as questões não sejam individualizadas. Individualizar a questão é viver a culpa e um sofrimento que não diz respeito ao Eu, mas a aspectos coletivos de uma sociedade que precisa lidar com feridas históricas. Reconhecer que essa vivência não diz respeito a uma falta ou culpa, se torna ainda mais relevante nesse contexto.
Referências.
Núñez, Geni. Descolonizando afetos. Experimentações sobre outras formas de amar. 5° edição- São Paulo: Planeta do Brasil, 2023.
Zanello, Valeska. Prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações. 1° Edição, Curitiba: Apris, 2022.
